Em 30 de outubro de 2006, um dia depois da reeleição de Lula à presidência da república, escrevi um artigo entitulado "A Esperança Morreu", publicado dias depois por um jornal local.
Hoje, 01 de novembro de 2010, coloco aqui neste blog aquele mesmo artigo, repetindo cada palavra, como se as tivesse redigido agora, vendo com perplexidade, ainda que prevista, a vitória de Lula, do PT e de Dilma Rousseff nas eleições realizadas ontem.
Deixo-os com o velho artigo, enquanto sigo com o luto novo.
Até a próxima.
Segunda-feira, trinta de outubro de 2006. Hoje deveria ser um dia como outro qualquer. Manhã de sol, início de mais uma semana, mais um dia de trabalho. Mas tudo parece diferente. Um gosto amargo na boca, expressão de tristeza no olhar, dor inquietante na alma.
É difícil expressar em palavras o que sentimos quando um ente querido se vai. Vazio no peito, silêncio no coração; falta um pedaço de nós, mesmo estando tudo ali, como sempre estivera. O coração palpita, acelera e de repente quase pára, mas continua ali, batendo, batendo, batendo. O ar parece sumir, esquentar, queimar os pulmões como fogo, como um veneno que nos corrói. O corpo parece moído, surrado, dolorido, mesmo sem que nada o tivesse atingido. A vida não faz sentido, nada faz sentido.
A caminho do trabalho, tanta gente.... repetindo, sem pensar, o que sempre foi feito. Sem olhar para o lado, sem saber o que se passa,.... totalmente indiferente. E eu ali, observando, caminhando, pensando, tentando entender o que tinha ocorrido. Nada, nada faz sentido.
Quando criança sonhava voar, sentindo a brisa no rosto, com brilho no olhar. Sonhava que o mundo era seguro, era belo, perfeito. Que as pessoas eram boas, exceto umas poucas, que realmente eram más. Aprendi que quem rouba é ladrão e que não existe forma certa de fazer o que é errado. Aprendi que a verdade às vezes dói, mas que a mentira destrói; que quem promete, cumpre; e se não pode cumprir, não se deve prometer; que a vida é dura, mas que ao final tudo dá certo, pois Deus escreve certo por linhas tortas. Mas há quem diga que Ele escreve certo por linhas certas e que somos nós que entortamos as linhas.
Parece confuso, estou confuso. As crianças não acreditam maisem papai Noel , sabem que se a “grana” for curta não tem presente. E os adultos, ah... os adultos. Não acreditam mais na paz, não acreditam no amor..... não acreditam que ainda exista verdade onde reina a mentira, o cinismo, a hipocrisia, a demagogia; não acreditam na justiça, quiçá na Divina; não acreditam na honestidade e nem sequer se chocam mais com tanta falsidade. O mundo virou uma terra de ninguém, uma praça de guerra onde vence o mais esperto e não o melhor; onde educação passou a ser apenas um número, um percentual, um item tão importante quanto...... quanto....... do que mesmo eu estava falando ???
Justiça social hoje é sinônimo de esmola, tirada de quem não tinha muito e agora tem quase nada. Será que não seria mais “justo” criar condições para que todos tenham dignidade???? Afinal, tirar de um para dar a outro parece mais vingança do que justiça. Um “toma lá, dá cá”, uma luta armada entre irmãos que mal se conhecem, que não se aceitam, que não se olham, que não se entendem.
A sociedade não existe mais. É cada um por si e o futebol por todos. Mas isso até a 1a caixa de cerveja. Daí pra diante tudo vira festa e o país esquece que antes do dia 30 veio um 29. O dia em que a esperança morreu!!! O dia em que a mentira venceu. Para 55 milhões de pessoas em nosso país a verdade definitivamente não faz falta. Que pena!
Sempre tive orgulho de ser brasileiro, país de um povo alegre, hospitaleiro, guerreiro. Um povo que “não foge à luta”, que não desiste. Um povo sofrido que merece muito mais do que tem sido seu legado. Sonhava com o dia em que unidos pudéssemos fazer um Brasil diferente, uma nação decente. Mas hoje estou enfraquecido. O orgulho se transformou em vergonha; o sonhoem decepção. Ninguém se importa mais com as arbitrariedades; ninguém acredita mais que o país possa ser administrado ao invés de ser governado. Os erros do passado justificam os do presente e os do futuro, como se todo dia fosse uma sexta-feira 13. (E não é coincidência numérica).
Sei que a democracia é retratada pela “maioria”, mas não acredito que o que era errado ontem se torne certo hoje só porque a “maioria” não se importa. A esperança morreu, mas minha consciência e a minha dignidade ainda não.
Meus pais me ensinaram que a maior herança que uma família pode deixar é a educação e a honestidade. E isso nosso ilustríssimo presidente da república não sabe o que é. Justiça seja feita: Nosso povo mostrou que merece o governo que tem! E não tem do que reclamar.
Deixo aqui minha mensagem de pesar, esperando que amanhã eu possa acordar e descobrir que tudo não passou de um pesadelo.Fabio Frasson, 30/10/2006
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